Segundo o palestrante, a Psicologia está construindo um espaço comum no cenário nacional
O III Congresso Catarinense de Psicologia Ciência e Profissão retomou as atividades no terceiro dia, 01 de setembro, com a conferência do doutor em psicologia pela USP, Saulo Luders Fernandes. Durante abertura, Saulo, que participou ativamente das mesas e debates do evento, informou que sua abordagem iria ao encontro das falas anteriores de Maria Aparecida Bento, Elisa Zaneratto e Angela Soligo. “Isso é legal, porque se percebe neste momento que a Psicologia está construindo um espaço comum no cenário nacional, pois, de certa forma, estamos dialogando no sentido das demandas éticas da nossa profissão”.
O professor apresentou a temática sobre promoção de igualdade social, inclusão, lutas contra o racismo, a discriminação e o preconceito. “Precisamos construir um espaço onde a gente possa pensar uma ética do viver entre as relações dos nossos povos”, pontuou o conferencista.
Fernandes destacou a importância de saber o seu lugar enquanto sujeito para poder avaliar as implicações sociais. “Temos que saber lidar com afetividades que foram esquecidas, abandonadas. Não podemos pensar as coisas no imediato, temos que ter a famosa memória larga e recuperar as implicações sociais do país, que aconteceram desde o processo de des-colonização” disse. Para ele, a questão étnica racial é fundamental e central para se pensar em modernidade. “Se ela é central, ela me torna sujeito branco, negro ou indígena, e temos que discutir mais as implicações disso e lembrar dos nossos privilégios, quais grupos evidenciamos e quais falas a gente deixa invisível”, exclamou.
O professor mencionou, ainda, a problemática da formação em Psicologia que não traz questões políticas e sociais brasileiras no currículo. “É como se a discussão sobre etnia pertencesse somente aos grupos étnicos marcados. Como se o Brasil não fosse uma sociedade caracterizada racialmente pela escravidão”, ressaltou. Saulo ainda falou dos direitos humanos como um lugar de luta e do potencial do país e América Latina neste patamar. “Podemos fazer um novo futuro de horizonte para o mundo. A(o) psicóloga(o) que não discute Direitos Humanos hoje está muito aquém da nossa prática. Precisamos produzir formas para o aprendizado da igualdade e compartilhá-los para que chegue a todos os lugares”, reforçou.
Segundo o conferencista, é preciso cuidar do local onde estamos construindo nossas narrativas e, mais importante que isso, é preciso valorizar os conhecimentos dos povos originários. “Esses povos têm muito a dizer para a gente, e muito a produzir no potencial desta violência vivida historicamente. Precisamos tirá-los da invisibilidade”. Luders provocou questionamentos acerca dos conceitos básicos psicológicos que teremos que descontruir para lidar e se encontrar com essas populações. “Não tem como pensar uma psicologia, sem pensar território. E quais são os sofrimentos foram produzidos nestes territórios”, disse ele.
A conferência de Saulo erá disponibilizada em breve no canal do Youtube do CRP-SC.